terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Oportunidade de agradecer...

  Estava suando muito, as gotas escoando por todos os lados, face, colo, braços. Era realmente um dia muito quente. Tentei sentar um pouco num banco de praça, mas algo me impulsionava para frente, como se dissesse em minha mente “Continue... não pare agora!”. Impressionante a maneira que às vezes sentimos como se alguém quisesse nos transmitir algum recado, enfim, segui minha intuição e prossegui a caminhada.
    O sol estava a pino e o parque estava quase vazio, pois ninguém se arriscava a pegar uma ensolação, os poucos transeuntes que havia, não davam a mínima atenção para a minha presença.
    Eu já estava me sentindo grudento, pegajoso com aquele suor todo escorrendo e meus passos tornavam-se mais lentos sob a luz ofuscante do meio-dia. Senti-me mais fraco a cada passo e achei que iria desmaiar, porém, a voz interior insistia para que meus passos fossem mais resolutos e não afrouxei o corpo no intuito de chegar logo à casa.
    Isso nunca me acontecera, eu fazia academia e caminhadas sempre que podia ao amanhecer, meu corpo estava acostumado a exercícios físicos. Se soubesse que passaria tão mal, não teria ido a pé ao banco, antes de ir pra casa almoçar.
    Minha rotina diária consiste em almoçar em casa com minha esposa; moro no centro de São Paulo e trabalho a uns 20 minutos de carro da minha casa, sempre vou para casa de carro, mas justo hoje que o sol queimaria até os órgãos internos das pessoas na rua, resolvi caminhar, precisava passar no banco que ficava a meio caminho de casa, achei que esse seria o alívio para que a caminhada fosse menos sôfrega e contava também com meu preparo físico. Não contava com a queda de pressão e a falta de força, tinha a impressão de me refestelar no asfalto a qualquer momento. Poderia parar, tomar um suco, uma água de côco e retomar a jornada assim que me sentisse melhor, no entanto, a intuição me indicava de forma persistente o caminho de casa.
    Chegando à casa fui recebido por minha esposa que estava pronta pra sair, ela voltaria para o banco onde trabalha, chamaram-na urgentemente, pois houve um problema que só a gerente poderia resolver, no caso, a minha esposa. Uma campainha soou dentro de mim, fiquei pasmo, já não tinha sido atormentado por todo o caminho? Mais essa?
    Ao ver-me, ela relatou o acontecido, mas perguntou se estava me sentindo bem. Eu não queria preocupá-la, disse que foi só uma indisposição, mas ela, como boa esposa que é, percebeu as minhas péssimas condições e resolveu não se importar com o chamado do banco, ponderou que a saúde do marido seria mais importante. Sob protestos de minha parte, ela ajudou-me a subir as escadas (para verem como eu estava realmente debilitado) e deitou-me na cama. Eu ia dizer que ela poderia ficar despreocupada e que deveria voltar para suas obrigações, afinal, eu já estava em segurança, não tive forças pra pronunciar as palavras e apaguei.
    Ao acordar, percebi que não estava na minha casa, o lugar era um quarto de hospital, havia um soro me alimentando, porém, de forma estranha eu já me sentia muito bem, apesar de parecer ter dormido por algum tempo.
    Minha esposa entrou no quarto sem poder esconder olhos vermelhos e inchados. Fiquei paralisado, senti como se a cama tivesse sumido embaixo de mim e pensei “vou morrer”. Ela olhou-me com aqueles olhos ternos e doces que para mim só ela tem, achei que fosse começar a chorar novamente,  mas não, ela abriu um sorriso lindo e anunciou:
    - Querido, o médico realizou alguns exames e não faz ideia do motivo que o tenha levado a passar mal, você não apresenta nenhum problema de saúde, ele acredita que houve queda de pressão,  mas eu tenho certeza que Deus fez tudo isso pra me livrar da morte.
    Sentei-me no mesmo instante, atônito e curioso por saber o que houve. Obviamente ela percebeu minha ansiedade e foi logo relatando.
    - O banco foi roubado hoje, os bandidos queriam a presença da gerente, como eu não estava, eles pegaram o sub-gerente como refém depois de levarem todo o dinheiro. Mataram-no a quatro quadras do banco, jogaram o corpo num rio e fugiram.
    Ali eu entendi que Deus tem muitos propósitos, que Ele fala de diversas maneiras e que, mesmo em situações difíceis, devemos agradecê-lo.
    Abracei minha esposa com ternura e percebi a grandeza do presente que ganhei naquela tarde.

2 comentários:

  1. Muito legal!!! Achei rico nos detalhes, com um texto bem atual, expressivo e ate da pra imaginar a cena...Fico feliz por você. Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Na verdade nao foi Antonio que postou e sim Adelia Cruz...Ah! Adora estas balas de goma.....

    ResponderExcluir