Estava suando muito, as gotas escoando por todos os
lados, face, colo, braços. Era realmente um dia muito quente. Tentei sentar um
pouco num banco de praça, mas algo me impulsionava para frente, como se
dissesse em minha mente “Continue... não pare agora!”. Impressionante a maneira
que às vezes sentimos como se alguém quisesse nos transmitir algum recado,
enfim, segui minha intuição e prossegui a caminhada.
O sol estava
a pino e o parque estava quase vazio, pois ninguém se arriscava a pegar uma
ensolação, os poucos transeuntes que havia, não davam a mínima atenção para a
minha presença.
Eu já estava
me sentindo grudento, pegajoso com aquele suor todo escorrendo e meus passos
tornavam-se mais lentos sob a luz ofuscante do meio-dia. Senti-me mais fraco a
cada passo e achei que iria desmaiar, porém, a voz interior insistia para que
meus passos fossem mais resolutos e não afrouxei o corpo no intuito de chegar
logo à casa.
Isso nunca me
acontecera, eu fazia academia e caminhadas sempre que podia ao amanhecer, meu
corpo estava acostumado a exercícios físicos. Se soubesse que passaria tão mal,
não teria ido a pé ao banco, antes de ir pra casa almoçar.
Minha rotina
diária consiste em almoçar em casa com minha esposa; moro no centro de São
Paulo e trabalho a uns 20 minutos de carro da minha casa, sempre vou para casa
de carro, mas justo hoje que o sol queimaria até os órgãos internos das pessoas
na rua, resolvi caminhar, precisava passar no banco que ficava a meio caminho
de casa, achei que esse seria o alívio para que a caminhada fosse menos sôfrega
e contava também com meu preparo físico. Não contava com a queda de pressão e a
falta de força, tinha a impressão de me refestelar no asfalto a qualquer
momento. Poderia parar, tomar um suco, uma água de côco e retomar a jornada
assim que me sentisse melhor, no entanto, a intuição me indicava de forma
persistente o caminho de casa.
Chegando à
casa fui recebido por minha esposa que estava pronta pra sair, ela voltaria
para o banco onde trabalha, chamaram-na urgentemente, pois houve um problema
que só a gerente poderia resolver, no caso, a minha esposa. Uma campainha soou
dentro de mim, fiquei pasmo, já não tinha sido atormentado por todo o caminho?
Mais essa?
Ao ver-me,
ela relatou o acontecido, mas perguntou se estava me sentindo bem. Eu não
queria preocupá-la, disse que foi só uma indisposição, mas ela, como boa esposa
que é, percebeu as minhas péssimas condições e resolveu não se importar com o
chamado do banco, ponderou que a saúde do marido seria mais importante. Sob
protestos de minha parte, ela ajudou-me a subir as escadas (para verem como eu
estava realmente debilitado) e deitou-me na cama. Eu ia dizer que ela poderia
ficar despreocupada e que deveria voltar para suas obrigações, afinal, eu já
estava em segurança, não tive forças pra pronunciar as palavras e apaguei.
Ao acordar,
percebi que não estava na minha casa, o lugar era um quarto de hospital, havia
um soro me alimentando, porém, de forma estranha eu já me sentia muito bem,
apesar de parecer ter dormido por algum tempo.
Minha esposa
entrou no quarto sem poder esconder olhos vermelhos e inchados. Fiquei
paralisado, senti como se a cama tivesse sumido embaixo de mim e pensei “vou
morrer”. Ela olhou-me com aqueles olhos ternos e doces que para mim só ela tem,
achei que fosse começar a chorar novamente,
mas não, ela abriu um sorriso lindo e anunciou:
- Querido, o
médico realizou alguns exames e não faz ideia do motivo que o tenha levado a
passar mal, você não apresenta nenhum problema de saúde, ele acredita que houve
queda de pressão, mas eu tenho certeza
que Deus fez tudo isso pra me livrar da morte.
Sentei-me no
mesmo instante, atônito e curioso por saber o que houve. Obviamente ela
percebeu minha ansiedade e foi logo relatando.
- O banco
foi roubado hoje, os bandidos queriam a presença da gerente, como eu não
estava, eles pegaram o sub-gerente como refém depois de levarem todo o
dinheiro. Mataram-no a quatro quadras do banco, jogaram o corpo num rio e
fugiram.
Ali eu
entendi que Deus tem muitos propósitos, que Ele fala de diversas maneiras e
que, mesmo em situações difíceis, devemos agradecê-lo.
Abracei
minha esposa com ternura e percebi a grandeza do presente que ganhei naquela
tarde.
Muito legal!!! Achei rico nos detalhes, com um texto bem atual, expressivo e ate da pra imaginar a cena...Fico feliz por você. Parabéns!
ResponderExcluirNa verdade nao foi Antonio que postou e sim Adelia Cruz...Ah! Adora estas balas de goma.....
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